Eu vi o número 61. Digo, parei e olhei o número 61. Foi como se pela primeira vez eu o percebesse além do conceito de número, como a personificação do número. Me senti aquelas pessoas que moram no mesmo prédio há anos mas não olham para os que trabalham lá, e um dia, como que por acaso, lembram que aquele ser também é gente e o veem pela primeira vez. Ou seja, me senti mal pelo desrespeito contínuo que tive pelo número 61 todos esses anos.
A fonte em questão, não sei seu nome, tinha o arco alto do número 6 bastante curvado. O 1 era ordinário - não me lembro de perceber essas diferenças entre os números um, existem, mas eu ignoro, inconscientemente. Não no sete, não no cinco, não no seis ou nove. Era um seis com seu arco superior razoavelmente curvado, um seis clássico, um seis que me lembrava tempos antigos e sérios, um seis quase filosófico.
E olhei para este seis solene seguido do um ordinário e fiquei confuso, muito confuso, com aquele número 19 que tinha um aspecto tão diferente. Algo estava errado com o 19. O 1 estava no lado erado, o 9 de cabeça para baixo. Eu percebia isso não de forma muito consciente, era apenas confuso, eu sabia que algo ali estava errado.
O que estava errado era meu comportamento para com o número 61 durante toda a minha vida. Um número pouco notável, pouco dito, sem piadas próprias, sem grandezas naturais que lhe fossem características, uma idade irrelevante. Era o 61, mas não para mim, para mim ainda era o 19. Tinha uma coisa muito estranha com aquele 19. E então, percebendo a minha estranheza, resolvi olhar para aquele número de novo. Aquele trabalhador incansável que eu ignorei por todo esse tempo, lhe dando o status de coisa, não o respeito e individualidade que ele merecia desde antes de eu nascer.
Olhei para ele e o percebi. Pela primeira vez eu vi, de verdade, o número 61. Foi como quando você percebe que azul se chama azul, que tem aquele som muito especifico, e não azil ou azol, e tem aquelas exatas letras numa sequência exata com sua forma exata e seu resultado interpretativo não tão exato assim. Azul. Aquele momento que você repete e repete e repete a palavra, como que para testa-la, aquela palavra tão comum que de repente se torna uma estranha e você esquece mesmo como dizê-la, e se repetir bastante o som se perde e você a perde e ela deixa de fazer sentido completamente e vira um mantra ecoando no vazio sem significado próprio, sem voz, representação ou corpo. O 61 era hoje meu azul redescoberto.
Olhei para ele até que os algarismos deixassem de fazer sentido, até que eu esquecesse que ele é muito mais do que um desenho numa superfície, que ele não esta solto, que ele anda acompanhado do conceito de si próprio. Me perdi no 61, naquele até então estranho 19, e perdido nele fiquei até que de repente, pela primeira vez, eu o vi. Estava ali diante de mim o 61 em pessoa, seu avatar, seu proxy, seu múltiplo, sua representação, aqueles pequenos e redondos traços que são apenas a porta de entrada para uma dimensão própria e infinita que é a dimensão de todo número.
Eu olhei para ele com vergonha, como se pedisse desculpas por tê-lo ignorado por tanto e tanto tempo. Ele nunca me respondeu, não pareceu ficar com raiva, com rancor, com ódio, ou nenhum outro sentimento. Ele era apenas o 61, mas também o poderoso 61, que não precisa de minha aprovação, minha devoção ou mesmo meu reconhecimento. O 61, apenas. Foi bom vê-lo pela primeira vez. E agora, para mim, ele tem uma forca que eu desconhecia e nunca esperaria dele.
A fonte em questão, não sei seu nome, tinha o arco alto do número 6 bastante curvado. O 1 era ordinário - não me lembro de perceber essas diferenças entre os números um, existem, mas eu ignoro, inconscientemente. Não no sete, não no cinco, não no seis ou nove. Era um seis com seu arco superior razoavelmente curvado, um seis clássico, um seis que me lembrava tempos antigos e sérios, um seis quase filosófico.
E olhei para este seis solene seguido do um ordinário e fiquei confuso, muito confuso, com aquele número 19 que tinha um aspecto tão diferente. Algo estava errado com o 19. O 1 estava no lado erado, o 9 de cabeça para baixo. Eu percebia isso não de forma muito consciente, era apenas confuso, eu sabia que algo ali estava errado.
O que estava errado era meu comportamento para com o número 61 durante toda a minha vida. Um número pouco notável, pouco dito, sem piadas próprias, sem grandezas naturais que lhe fossem características, uma idade irrelevante. Era o 61, mas não para mim, para mim ainda era o 19. Tinha uma coisa muito estranha com aquele 19. E então, percebendo a minha estranheza, resolvi olhar para aquele número de novo. Aquele trabalhador incansável que eu ignorei por todo esse tempo, lhe dando o status de coisa, não o respeito e individualidade que ele merecia desde antes de eu nascer.
Olhei para ele e o percebi. Pela primeira vez eu vi, de verdade, o número 61. Foi como quando você percebe que azul se chama azul, que tem aquele som muito especifico, e não azil ou azol, e tem aquelas exatas letras numa sequência exata com sua forma exata e seu resultado interpretativo não tão exato assim. Azul. Aquele momento que você repete e repete e repete a palavra, como que para testa-la, aquela palavra tão comum que de repente se torna uma estranha e você esquece mesmo como dizê-la, e se repetir bastante o som se perde e você a perde e ela deixa de fazer sentido completamente e vira um mantra ecoando no vazio sem significado próprio, sem voz, representação ou corpo. O 61 era hoje meu azul redescoberto.
Olhei para ele até que os algarismos deixassem de fazer sentido, até que eu esquecesse que ele é muito mais do que um desenho numa superfície, que ele não esta solto, que ele anda acompanhado do conceito de si próprio. Me perdi no 61, naquele até então estranho 19, e perdido nele fiquei até que de repente, pela primeira vez, eu o vi. Estava ali diante de mim o 61 em pessoa, seu avatar, seu proxy, seu múltiplo, sua representação, aqueles pequenos e redondos traços que são apenas a porta de entrada para uma dimensão própria e infinita que é a dimensão de todo número.
Eu olhei para ele com vergonha, como se pedisse desculpas por tê-lo ignorado por tanto e tanto tempo. Ele nunca me respondeu, não pareceu ficar com raiva, com rancor, com ódio, ou nenhum outro sentimento. Ele era apenas o 61, mas também o poderoso 61, que não precisa de minha aprovação, minha devoção ou mesmo meu reconhecimento. O 61, apenas. Foi bom vê-lo pela primeira vez. E agora, para mim, ele tem uma forca que eu desconhecia e nunca esperaria dele.
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