sábado, dezembro 29, 2012

A velocidade da gravidade


A velocidade da gravidade
ou
como perguntas inúteis nos fazem avançar

Quando eu era criança, a minha falta de conhecimento sobre as "leis do universo", em conjunto com a quantidade razoável de leitura não-realista (quadrinhos, ficção científica e fantasia) me permitia fazer perguntas... estranhas. Não limitado por conceitos formados ou mundos realistas, eu gostava de criar histórias irreais, fantásticas, mágicas.

Um dia, imaginei um ser multi-poderoso teletransportando um planeta. O planeta, na minha história imaginária (não são todas?) estava em rota de colisão com sua estrela devido a um distúrbio na realidade. Assim, como única maneira de salvar sua terra natal, o ente poderoso teletransportara o planeta para outro local no espaço, não muito distante do original.

Acontece que orbitava o planeta uma estação espacial. E agora, a gravidade que incidia sobre ela era outra.

E a primeira pergunta que eu me fiz, pensando sobre a situação foi: quanto tempo demoraria para a "nova" gravidade do planeta chegar até a estação espacial?

Por mais que eu pensasse no assunto, não cheguei a uma conclusão lógica. Embora na época eu já tivesse alguma familiaridade com a Teoria da Relatividade, e "sabia" que a gravidade pode ser interpretada pela distorção espaço-temporal causada por um corpo, não conseguia chegar a conclusão alguma sobre quão rápido essa distorção se espalharia pelo espaço.

Acabei por desistir do assunto, um pouco frustrado.

Quando o grande oráculo surgiu, nos idos de 2004, eu aproveitei para perguntar coisas que eu sempre quis saber. E lembrei disso.

O que teria acontecido se eu tivesse ido atrás dessa resposta? Não sei, provavelmente variaria a depender do afinco que eu pusesse nessa tarefa. Mas com certeza eu teria estudado mais sobre gravidade, sobre as "ondas gravitacionais". Teria entendido que cientistas importantes também se depararam com o problema. Teria aprendido sobre a matemática desses processos, ou ao menos teria entrado em contato com ela mais cedo. E quem sabe talvez tivesse mesmo seguido os caminhos de pesquisa científica.

Mas eu sempre fui tido como maluco, porque fazia perguntas estranhas e tinha pontos de vista não ordinários. Às vezes eu acabava por acreditar que eu devia ser um pouco maluco. E também por isso, deixava de lado algumas ideias e vontades pra me manter "mais normal".

De qualquer forma, é interessante notar que algumas perguntas muito bobas, ou muito estranhas, nos levam a lugares fantásticos, mesmo que elas não sejam respondidas. Por isso que que eu sempre gostei de filosofia, de física, de matemática.

Ao mesmo tempo é interessante notar que as pessoas não se perguntam sobre as coisas. De modo geral, as pessoas simplesmente vivem, e dão as informações que vão recebendo durante a vida como certas, se é que chegam a pensar sobre isso.

Na minha aula de vólei, quando eu tinha 13 anos, me ensinaram que um abdome trabalhado ajudaria a suspensão do corpo do atleta no ar. "Como", eu perguntei ao professor. Ele não soube me responder. E os outros alunos acharam a minha pergunta estranha, inicialmente, mas depois tiveram a mesma curiosidade.

Eu adoro crianças. Não terei filhos, mas acho esses seres fascinantes, intrigantes e potencialmente fantásticos. Por isso eu adoro as perguntas das crianças. Eu tento estimular que elas tentem se perguntar sobre as coisas. Quando uma criança faz uma pergunta, eu me divirto junto com ela tentando que ela chegue a uma conclusão própria. Nem sempre dá. Mas é muito divertido.

E acima de tudo, eu estimulo as perguntas inúteis. Elas ajudam a estabelecer métodos de extrapolação de raciocínio que não estão presentes em processos mentais de muitos adultos que conheço. E perguntas inúteis tiram um pouco do peso de aprendizado sobre o mundo real e dão ao processo um gosto misto de rebeldia e liberdade. Quem se importa com quem descobriu o Brasil? Eu quero é saber o que aconteceria se eu pulasse num buraco que ligasse dois lados opostos do planeta.

Quanto à minha pergunta: ainda não há uma resposta.

Sobre esse assunto em específico - a velocidade da gravidade - pode-se ler algo nos links abaixo,

1)
http://en.wikipedia.org/wiki/Speed_of_gravity

2)
http://www.astrowatch.net/2012/12/chinese-scientists-find-evidence-for.html

3)
http://www.csa.com/discoveryguides/gravity/overview.php

4)
http://www.csa.com/discoveryguides/gravity/overview.php

5)
http://scienceblogs.com/startswithabang/2010/08/25/what-is-the-speed-of-gravity/

6)
http://www.metaresearch.org/cosmology/speed_of_gravity.asp

sexta-feira, junho 15, 2012

O que é ver?


- Você viu aquilo?
- Vi. O cara colocou a mão na bola de propósito!
- Não, rapaz, a bola bateu na mão dele! Ele nem percebeu que ela estava vindo!

O olho funciona de forma interessante. Algumas faixas de onda eletromagnética são filtradas, convergidas em um aparato que é sensibilizado por elas. Este aparato, também conhecido como retina, transmite a informação recebida, através do nervo ótico, até o cérebro. No cérebro, a informação é decodificada, e nós vemos. Parece "simples".

Mas não é nada simples.

Primeiro, porque o tipo de energia eletromagnética que somos capazes de perceber é, comparativamente com as frequências existentes, muito restrito.

Nosso aparelho de recepção e agrupamento de espectros eletromagnéticos (o olho humano) só consegue perceber, convergir e codificar a energia eletromagnética que possui comprimento de onda entre aproximadamente 400 e 700 nm (nanômetros, ou seja, 0,7 X 10 elevado a menos 6, ou seja, a décima milionésima parte de um metro, ou seja, algo muito muito muito pequeno).

Se considerarmos que existe energia eletromagnética desde a escala do Femtômetro (10 elevado a menos 15 metros, ou 0,000000000000001 metros) até a escala do Megâmetro (10 elevado a 6 metros, ou 1.000.000 metros), então percebemos que, no fim das contas, nossa capacidade de ver as coisas é muito pequena.

Diversos animais conseguem ver mais do que nós. E mesmo as plantas conseguem perceber espectros que nós não percebemos.

Ver não é só perceber a luz. Ninguém diz que o girassol vê a luz do sol. Perceber a luz é o primeiro passo, mas ver envolve também a capacidade de formar imagens, de dar forma ao que se percebe. A maioria dos animais é capaz de ver. Diferente de nós, melhor ou pior do que nós, muitos animais veem (sem acento, de acordo com as novas regras da língua portuguesa).

Acontece que ver não é algo objetivo, mas interpretativo. Há quem diga que a chegada da informação ao cérebro é só a primeira etapa do processo de ver. Para vermos, é preciso interpretação do que vemos.

Essa interpretação pode ser complexa. O diálogo que iniciou o texto é um exemplo bobo, mas eficaz, de como ver não é uma coisa objetiva. Quem já teve oportunidade de se deparar com ilusões de ótica também  já deve ter percebido que o cérebro, independente de nossa vontade, influi muito em como vamos interpretar o que vemos. Uma cor parece diferente a depender do contexto. Uma forma pode se transformar em outra a depender do enfoque. Uma ação pode ser entendida de maneiras diferentes a depender de como seja analisada, vista.

Nós costumamos pensar em como algo que percebemos é, obviamente, aquilo que pensamos que é, ou representa aquilo que pensamos que representa. Temos grande dificuldade de extrapolar o nosso ser e (eu sei que é difícil) tentar "ver" as situações de outra maneira. Meu irmão sempre brincava, quando criança (e eu concordo com ele) dizendo que "o verde que eu vejo não é o mesmo que você vê". E ele está certo - sob um ponto de vista.

Imaginemos que duas pessoas estão, no mesmo momento, a olhar para o mesmo objeto. Imaginemos que este objeto é uma cadeira verde, numa exposição de arte. As duas pessoas se encontram muito próximas, com ângulo de visão muito parecido. A incidência das ondas eletromagnéticas refletidas pela cadeira nos olhos das duas pessoas é praticamente o mesmo. Então, elas estão vendo a mesma cadeira, com o mesmo verde, certo?

Não necessariamente. Primeiro, que suas células são diferentes. Mesmo que nenhuma das duas tenha "defeitos" na percepção da luz (por exemplo, nenhuma é daltônica), suas células são diferentes. Só isso já cria a POSSIBILIDADE de que vejam a mesma cor de forma ligeiramente diferente. No mundo prático, essa diferença pode, ao fim das contas, não fazer diferença. No mundo da discussão filosófica, contudo, você não pode afirmar que elas estão vendo, seguramente, a mesma cor.

Segundo, que cada pessoa traz consigo uma bagagem cultural diferente. São pessoas diferentes, que tiveram educações diferentes, que viveram coisas diferentes, e que interpretam coisas de formas diferentes. Portanto, necessariamente, terão relações diferentes com aquela cadeira verde. Não só porque o verde que uma vê não é o mesmo que a outra vê, mas também porque para uma, cadeiras representam uma coisa e para a outra, outra coisa. Cada uma possui sua própria bagagem conceitual, emocional e prática com cadeiras e com a cor verde. Uma das pessoas pode achar que verde não é uma cor apropriada para cadeiras, enquanto outra pode pensar que uma cadeira verde é uma forma de representar o momento de descanso da natureza. Elocubrações à parte, as experiências, por mais próximas que sejam, são únicas e intransferíveis.

Contudo, pode-se trocar informações sobre essas experiências. Podemos conversar, discutir, argumentar sobre o modo que cada um percebe, vê e pensa aquela cadeira verde. Podemos também tentar entender o que o outro pensa sobre o assunto, como ele viu a cadeira, o que aquilo tudo representa para ele, e tentar mostrar para ele o que aquilo representa para nós. O outro pode discordar, concordar, se divertir, se irritar, a depender de como façamos isso. E vice-versa.

Aí está, para mim, um dos grandes problemas do mundo. Não é um problema novo. Na minha opinião, sob minha perspectiva, na minha ótica, o mundo tem problema de ver pelos olhos dos outros. E não é apenas uma dificuldade conceitual, de entender o que o outro vê, e como ele vê. É um problema de vontade.

Não vejo as pessoas dispostas a, antes de fazer julgamentos sobre ações ou opiniões, tentar entender o ponto de vista do outro. Se alguém te fecha no trânsito, necessariamente é um filho da puta. Se alguém pisa no seu pé, ou é um estúpido que fez isso de propósito, ou é um idiota que não olha por onde anda. Se aquela pessoa grita, a primeira reação é gritar de volta, em vez de tentar entender o que (possivelmente) está afligindo aquela pessoa para que ela tenha tido que gritar conosco.

Se somos necessariamente diferentes, porque não conceber que o outro interpreta as coisas diferentemente de nós e, antes de agir, pensar sobre os motivos que levaram a pessoa X ou Y a agir como agiu? Principalmente quando estamos dispostos a agir com violência ou de alguma forma que vá ferir - não apenas fisicamente - o outro.

Falta paciência, educação, vontade, a todos nós. Acho que precisamos rever isso.

Claro, isso é o meu ponto de vista. Fiquem à vontade para ampliar a minha capacidade de perceber diferentes frequências de ondas eletromagnéticas que extrapolem a física.

sábado, fevereiro 18, 2012

Afã! Farra!


Farra é uma palavra engraçada. Eu sempre penso nas pessoas da geração anterior à minha numa festa semi-hippie, dançando, rindo, com os filhos morrendo de vergonha de ver seus pais se mexendo de forma um tanto medonha - para seus padrões adolescentes.

Nunca associei farra a alguma coisa que não fosse "pura", leve, mas muito divertida e extensa. Quando penso em farra, penso em dança, suor, risadas, nunca em drogas pesadas, gente vomitando, nem nada de ruim.

Nesses dias vi uma mini fanfarra, ou como descobri, um chupa-catarro, descendo a rua na maior farra. Algumas pessoas acompanhando, todas extremamente felizes (mesmo os jovens envergonhados, que não queriam admitir ), debaixo do típico sol do verão soteropolitano, dançando, cantando.

.

Um amigo tem o incrível poder de não-entender, ou entender errado, tudo o que ouve. E uma das frases que ele retrabalhou internamente no seu cérebro resultou na seguinte: "A farra dos fabricantes de sopa". 

Eu sempre me divirto tentando imaginar como seria uma farra dos fabricantes de sopa. 

Várias pessoas com seus chapéus de mestre-cuca, dançando, cantando, numa cozinha cheia de massas, legumes e carnes. Alguns cortando os ingredientes, outros acendendo o fogão, alguns lavando panelas, uns jogando as letrinhas pra cima, como confete, outros batucando com os utensílios, outras ainda tomando sopa. E dançando. Todas muito felizes.

E seus filhos adolescentes, com seus chapéus de mestre-cuca júnior, morrendo de vergonha, e se divertindo secretamente por meio das reclamações, risos, e passos de dança encabulados.

quarta-feira, janeiro 25, 2012

O velho Urso de Pelúcia.

Cansei, pensou o velho urso de pelúcia. Cansei de tentar ser feliz, de seguir os meus sonhos. Cansei de ir atrás de um novo dono a cada 4, 5 anos, de tentar agrada-lo, de tentar encontrar alguém que também me agrade. Cansei de correr atrás de uma coisa que nunca será duradoura, e por mais que enquanto esteja, seja completa, termina.

Cansei.

E então o velho urso de pelúcia fez uma fogueira bem grande e pulou dentro dela.

Cinzas jogadas em um caminhão.