terça-feira, junho 11, 2002

Certo. All right.
As nuvens acabam de passar sobre mim. Na verdade, eu as estou pisando. Não é nada confortável, posso garantir. É como se pisasse em almas recém saidas de seus corpos, mas apenas em viagem astral. Não é possível pisar em almas de mortos, a não ser que se passe pela porta aberta.
Mas as nuvens continuam embaixo de mim. Meu peso faz com que elas mudem de cor, afinal elas são nuvens, e eu sou parte de uma cabeça.
Meus pensamentos puros sempre me deixam mais pesado. Por isso, arranco algumas cabeças e destruo estátuas de areia no caminho.
Se é que podemos dizer que nuvens enfileiradas, todas em forma de elefantes ou aboboras, formam um caminho.
Meu carro quebrou. Tive de pegar este atalho. Eu pedi à luz do Sol, e ele me trouxe para cá, onde é mais seguro. Daqui de cima nunca se pode cair.
Meus cabelos voam, mas não pelo vento, e sim pelo sorvete que eu cheiro. Seu cheiro é doce, mas não como milho, e sim como copos plasticos.
Eu sei que isso não é real. Por isso que eu acredito.
Andando novamente na estrada, sinto que meus pés querem parar. Não posso ver o fim, mas sei que já passei dele, e quanto mais perto eu chego, mais longe estou. Por que aqui, tudo é questão de querer, e nem eu posso querer aquilo que eu não quero que os outros queiram. Pois afinal, o que é seu, só é mesmo seu quando você guarda. E não mostra para ninguém.
Meus medos eu não mostro para niguém. Pois ninguém pode ver o que não quer.
Alguns habitantes passam por mim, mas eles não sabem que eu estou ali. Eu ando pelo corrimão, pois o perigo é conhecido, e a segurança falha.
Agora, os pequenos elefantes gritam. O Sol está indo, e eu tenho de descer.
Eu não quero descer. Se descer, eu posso cair. E aqui eu só posso subir.
Pego carona com o canto de uma brisa, e ela me leva diretamente ao centro das paredes cinzas.
E lá, com o livro na mão, eu atravesso a porta que nunca abre.
Mãe, já estou de volta.

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