quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Livros

No carnaval, li "Caçadores de Pipas". Hoje, terminei de ler "O livreiro de Cabul" e li tammbém "Eu sou o livreiro de Cabul".

Todos misturam ficção com realidade e tratam do Afeganistão nesse processo URSS X Talibãs X EUA no país. O primeiro se diz 100% ficção, mas reproduz no comportamento das personagens o modo de viver afegão. O segundo se diz reportagem realidade, e foi escrito por uma norueguesa que viveu com uma família afegã durante aproximadamente 5 meses e, tendo acesso ao mundo masculino e ao mundo feminino de lá, relatou acontecimentos intermediasdos (obviamente) por sua visão de mundo e seu eurocentrismo. E o último é a resposta ao segundo, escrito pelo personagem central do livro, o chefe da família afegã que recebeu a norueguesa.

Antes de julgar qualquer coisa, gostaria de dizer que os três demonstram que o Afeganistão passou por um processo muito duro e destrutivo nos últimos anos, e migrou de um país razoável/rico para um espólio de guerra totalmente destruído. Em todos, se fala do modo como as coisas eram antigamente, pouco antes das mudanças radicias, durantes as três mudanças radicais e agora.

O Afeganistão é um país de maioria muçulmana que segue os ditames desta religião. Estes ditames variam um pouco de país para país. Por exemplo, o modo como a burca deve ser utilizada. Na década de 60 e um pouco da década de 80, boa parte dos países mulçumanos era partidário do que chamarei de "islamismo ocidentalizado". Ia chamar de Islamismo esclarecido, por seu mais liberal em alguns aspectos, mas percebi que seria liberal nos meus conceitos, e assim eu estaria sendo totalmente ema-céntrico.

Este "Islamismo ocidentalizado" era um islamismo menos atento às leis e costumes originais do Islã. As mulheres não precisariam usar a bruca, poderiam andar nas ruas sozinhas, trabalhar, ter contatos com homens que não fossem de sua família. As bebidas eram permitidas, bem com música, cigarro, fotografias, liberdade de culto e, de alguma forma, liberdade sexual.

Depois deste período, houve diversos problemas na área. No caso do Afeganistão, houve a invasão da Rússia. Seguida pela tomada do país pelo Talibã.

Durante o tempo de controle do Talibã, as tradições voltaram (ou pelo menos foi esta a itnenção) ao que eram na época do profeta Maomé (ou seja, a de 1300 anos atrás). Bebidas estavam proibidas. As pessoas eram obrigadas a rezar 5 vezes por dia. Existia uma Ministério do Vício para controlar o modo de agir dos cidadãos. Os homem deveriam ter barba de comprimento de um punho. As mulheres deveriam cobrir todos os fios do corpo e não permitir que fosse possível se imaginar seus corpos usando roupas apertadas. Não deveriam falar, olhar, serem vistas e andar com homens que não fossem da sua família.

Então veio o 11 de setembro, tiraram o Talibã do poder (não vou discutir aqui se a forma como isso foi feito é correta ou não), e os costumes tendem a voltar ao Islamismo ocidentalizado. Mas isso é apenas o páno de fundo sobre o que eu qeuro realmente tratar.

A norueguesa, jornalista, estaav em Cabul (capital do Afeganistão) quando o Talibã foi expulso, e quis acompanhar de perto este processo de mudança política no local. Tendo conhecido a família do chamado Livreiro, viveu com eles, conversando com as mulheres, colhendo a opinião dos homens. Seu livro conta, minunciosamente, detalhes da vida desta família. Verdadeiros ou falsos, estes detalhes, se lidos por qualquer pessoa que tenha contato com esta família, seria motivo de desgraça.

Ela conta detalhes dos pensamentos e sonhos de cada um dos membros da família. Como todo mundo, estes membros por vezes têm desejos que são considerados errados, por falta de uma palavra melhor, no status quo afegão. As pessoas são expostas, sem seu consentimento, de forma violenta e degradante. Independentemente da veracidade das palavras da norueguesa, o acesso a estes escritos, por parte de um vizinho, por exemplo, desonraria toda a família. No Afeganistão, só as mulheres sabem o que as mulheres pensam. A elas, é reservado o quadro de obediência ao marido, irmão mais velho, chefe da casa ou "instituição" semelhante. É proibido, por exemplo, a uma mulher solteira, que receba cartas de amor de um jovem, principalmente se este não for de sua família. Só o fato de ela receber estas cartas já é em si um crime grave na sociedade comum afegã.

Isso é uma das passagens do livro. Uma das filhas do Livreiro, segundo a norueguesa, recebe cartas de amor de um jovem amigo de um de seus irmãos. Segundo a autora, um dos filhos do livreiro tenta conseguir sexo pago, outro crime. Uma família vizinha, de acordo com os relatos da jornalista, teria matado uma jovem (da própria família) por ter desonrado os seus iguais. E assim sucessivamente.

Como se já não bastassem os comentários relativos à interpretação da jornalistas sobre vários fatos relatados (interpretações estas que podem muito bem ser falsas) e o modo típico europeu de desconsiderar qulaquer cultura que não siga os padrões a qual está acostumado, ela abre a intimidade de uma família para o mundo, e pior, permite, via comentários diversos, que qualquer um que tenah freqüentado Cabul algumas vezes saiba de quem ela está falando, por mais que a norueguesa se utilize de subterfúcios, como renomear as pessoas.

Ora, Cabul é uma cidade quase destruída e muito pobre. O protagonista é um homem rico (para os padrões do país), dono de três livrarias, uma em um hotel famoso da cidade, vendedor de exclusivos cartões-postais. Ela até mesmo apresenta a foto da família na capa do livro, e diz o endereço deles. Ou seja, entrega de bandeja, para quem quiser saber, quem são as pessoas relatadas. Um absurdo.

Como alguém tem a coragem de fazer isso com outra pessoa, ainda mais se tratando de uma sociedade com costumes tão rígidos quanto um sociedade muçulmana?

O Livreiro escreveu um livro resposta. Um livro simples, mas interessante, contandosua versão da história. Um livro que, segundo ele, desmente muito do que a norueguesa disse, e adiciona detalhes importantíssimos à sua vida cotidiana que, se forem verdade, desmontam totalmente a narrativa da jornalista.

Não gostei muito de nenhum dos três livros. O primeiro, que virou filme, é bem ruinzinho, feito pra americano ler. O segundo parece ser um bom material jornalístico, um pouco floreado, que perde toda credibilidade quando lido o terceiro, que no mínimo suscita dúvidas com relação ao primeiro.

Mas o melhor de tudo mesmo é conhecer um pouco desta realidade tão distante, por mais estranho que sejam os caminhos. Conhecer a cultura afegã, um pouco do país, sua história, seus costumes.

Para completar, li também Persépolis, um livro/HQ autobiográfico sobre parte da vida de uma jovem iraniana durante a guerra Irã-Iraque. Outro livro que expõe as pessoas, principalmente amigos e familiares da jovem, mas que é muito bom, e que também nos faz aprender muito sobre o Irã e sobre o modo talibã de ser.

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